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Ciúme no Relacionamento: Quando o Amor se Mistura com Medo e Posse

  • Foto do escritor: niviaserrapsi
    niviaserrapsi
  • 12 de nov.
  • 5 min de leitura

A faísca de Eros e o desafio de amar sem se perder

ciúme no relacionamento

O ciúme é uma emoção universal.Todos nós já o sentimos — mesmo que em silêncio, mesmo que com vergonha.Ele pode ser uma faísca que desperta o desejo e a conexão, ou um incêndio que destrói a confiança e o amor.

Em Casos e Acasos, Esther Perel descreve o ciúme como “a faísca de Eros” — um sinal de que algo vivo ainda pulsa dentro do vínculo. Mas também lembra que o ciúme é uma das emoções mais ambíguas e perigosas: mistura de amor, posse, medo e humilhação.

O ciúme no relacionamento revela o que há de mais humano em nós: a vulnerabilidade de amar alguém que não podemos controlar.


O que é o ciúme e por que ele surge

O ciúme nasce da necessidade de preservar o vínculo e o medo de ser substituído.Ele é, ao mesmo tempo, uma tentativa de proteger o amor e uma resposta à insegurança.

A antropóloga Helen Fisher o descreve como “uma mistura nauseante de possessividade, desconfiança, raiva e humilhação” — uma força que pode engolir a essência de quem sente e ameaçar o equilíbrio da relação.

Em outras palavras, o ciúme é um lembrete doloroso de que o amor nunca é totalmente seguro.

Mas o problema não é sentir ciúme.O problema é quando ele deixa de ser emoção e se torna controle.


O ciúme nas diferentes culturas

O ciúme é interpretado de maneiras muito distintas pelo mundo.Enquanto em culturas latinas ele é visto como prova de amor (“quem ama, cuida”), em sociedades anglo-saxãs, é considerado sinal de fraqueza e falta de autocontrole.

No Brasil, o ciúme costuma estar ligado à paixão e ao medo da perda, enquanto nos Estados Unidos o discurso terapêutico tende a minimizá-lo, focando mais no trauma da traição do que na emoção em si.

Mas, seja qual for o contexto, o ciúme continua revelando a mesma coisa:a dificuldade humana de lidar com a liberdade do outro.


Ciúme, amor e vergonha: o dilema moderno

Durante séculos, o ciúme foi considerado uma expressão natural do amor.Na literatura clássica, ele é combustível para tragédias e dramas — de Otelo a Madame Bovary.

Mas nas últimas décadas, o ciúme passou a ser visto como sinal de imaturidade emocional.Vivemos numa época em que se valoriza o amor leve, o desapego, a autonomia.Então, admitir o ciúme virou quase um tabu.

“Eu, com ciúme? Jamais!”, dizem muitos — tentando esconder aquilo que sentem por medo de parecerem inseguros.

Mas negar o ciúme é também negar a vulnerabilidade de quem ama.


O ciúme como sintoma: o que ele realmente revela

O ciúme no relacionamento raramente fala apenas do outro.Ele fala de nós mesmos.De nossas inseguranças, da comparação constante, da sensação de não sermos suficientes.

Ele pode revelar:

  • Baixa autoestima – o medo de não ser desejado(a) o bastante.

  • Histórias de abandono – traumas afetivos que se reativam em relações amorosas.

  • Desequilíbrio de poder – quando um se sente emocionalmente mais investido do que o outro.

  • Falta de comunicação emocional – casais que falam pouco sobre o que realmente importa.

Por isso, o ciúme pode ser um convite para olhar para dentro — não um inimigo a ser combatido, mas uma emoção a ser compreendida.


O ciúme e o medo da comparação

Na era digital, o ciúme ganhou novas formas.Curtidas, mensagens, stories e olhares virtuais se tornaram gatilhos de insegurança.O parceiro não precisa sair de casa para “trair”: basta estar emocionalmente ausente.

Muitas pessoas descrevem o ciúme não apenas como medo de perder o outro, mas como medo de não ser escolhidas.É o medo de ser trocada por alguém “melhor”, “mais interessante”, “mais bonito(a)” — a ferida da comparação.

E isso gera uma sensação de impotência que não se resolve com controle, mas com diálogo e vulnerabilidade.


Ciúme, desejo e a ilusão da posse

Segundo Giulia Sissa, historiadora e filósofa italiana, o ciúme é uma “fúria erótica” — um impulso que nasce do amor, mas que tenta dominar o outro para aliviar o próprio medo.

Em muitos relacionamentos, confundimos amor com posse.Queremos garantir exclusividade, mas esquecemos que o amor é sempre um risco.Amar é se expor. É confiar mesmo sem garantias.

O ciúme saudável reconhece o medo e o transforma em cuidado.O ciúme doentio, por outro lado, tenta apagar a liberdade do outro — e, com isso, apaga também o desejo.


Por que é tão difícil admitir o ciúme

O ciúme é uma emoção que toca o ego.Ele nos faz sentir pequenos, vulneráveis, fora de controle.Por isso, muitas vezes, é escondido atrás de ironias, acusações ou distanciamento.

O sociólogo Gordon Clanton estudou o tema por décadas e observou que, até os anos 1970, o ciúme era visto como algo natural nas relações. Depois disso, passou a ser motivo de vergonha.

Hoje, como aponta Esther Perel, o ciúme é quase “politicamente incorreto”.Vivemos o paradoxo: precisamos amar para sentir ciúme, mas se amamos, achamos que não deveríamos senti-lo.


O ciúme e o amor maduro

O amor maduro não elimina o ciúme — ele o transforma.Em vez de agir por impulso, ele acolhe a emoção e conversa sobre ela.Em vez de controlar, busca compreender.

Roland Barthes escreveu que “o ciumento sofre quatro vezes: porque está com ciúme, porque se culpa por estar assim, porque teme ferir o outro e porque sofre por ser comum.”

Ou seja: o ciúme expõe o quanto o amor nos humaniza.Ele mostra que, por trás da autoconfiança, há sempre o desejo de ser escolhido e amado de novo — todos os dias.


Quando o ciúme se torna perigoso

O ciúme em si não é o problema.Ele se torna destrutivo quando ultrapassa a linha entre sentimento e comportamento.

⚠️ Sinais de alerta:

  • Verificações constantes no celular do parceiro.

  • Controle de redes sociais e amizades.

  • Agressividade ou chantagem emocional.

  • Isolamento do parceiro de amigos e família.

  • Crises de desconfiança sem base real.

Esses comportamentos, quando repetitivos, podem indicar ciúme patológico — e precisam ser tratados com acompanhamento psicológico.


Como a terapia de casal pode ajudar

A terapia de casal não tem o objetivo de eliminar o ciúme, mas de decifrá-lo.Durante o processo terapêutico, o casal aprende a:

  • Compreender o que o ciúme realmente representa.

  • Diferenciar percepção de realidade.

  • Construir confiança emocional.

  • Criar novos acordos de respeito e intimidade.

  • Resgatar o desejo e a segurança afetiva.

Na Terapia Cognitivo Comportamental, trabalhamos tanto os pensamentos automáticos (aqueles que alimentam a desconfiança) quanto os comportamentos de controle e evitação.Quando o casal aprende a conversar sobre o ciúme com empatia, o amor volta a ter espaço para respirar.


Transformando o ciúme em crescimento

O ciúme pode ser o início de uma crise — ou o começo de uma mudança.Ele aponta onde há medo, onde há ferida, onde falta confiança.Mas também pode ser o portal para um amor mais maduro, consciente e livre.

Falar sobre ciúme não é sinal de fraqueza.É sinal de coragem.

Afinal, como lembra Esther Perel, “a ausência completa de ciúme pode indicar um cadáver cujo nome é Eros”.O desafio não é eliminar o ciúme, mas transformá-lo em combustível para a intimidade.


O ciúme no relacionamento é inevitável — mas ele não precisa ser destrutivo.Pode se tornar um convite ao diálogo, ao autoconhecimento e à construção de um vínculo mais seguro.

Se o ciúme tem feito parte da sua relação, talvez esteja na hora de olhar para ele com outros olhos.Com cuidado, empatia e orientação profissional, é possível transformar a dor da desconfiança em maturidade emocional e reconexão.

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