Infidelidade e Crise de Identidade: Quando a Traição Abala Quem Você É
- niviaserrapsi
- 14 de mai.
- 4 min de leitura
Quando a infidelidade vira um espelho: a dor da traição e o colapso da identidade de quem trai e de quem foi traído
Quando amar não basta mais
“Você fez de mim essa pessoa. Não sei mais quem eu sou.”Essa frase, dita por Gillian no livro Casos e Acasos, de Esther Perel, revela uma dor que vai muito além da decepção amorosa. A infidelidade não destrói apenas a confiança entre um casal — ela desestrutura a identidade. Tanto para quem foi traído, quanto para quem traiu, a crise de identidade pode se instalar de forma devastadora.
Neste artigo, vamos mergulhar profundamente no impacto psicológico da traição, explorando a infidelidade e crise de identidade sob a perspectiva da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e da abordagem emocional descrita por Esther Perel. Este texto é voltado para casais que desejam compreender melhor o que acontece emocionalmente após uma traição, e como a terapia pode ser um caminho de reconstrução, pessoal e conjugal.
A traição como perda de identidade
Para Gillian, a infidelidade de seu parceiro não foi apenas uma traição amorosa — foi o roubo de sua identidade. Ao saber da existência de Amanda, a amante, ela se viu entrando no “clube das esposas traídas”. Ela diz: “Isso é inalterável e vai ser verdade pelo resto da minha vida.” O que foi rompido ali não foi só o contrato de fidelidade, mas o próprio senso de quem ela era dentro do relacionamento.
O amor, quando pluralizado por uma traição, deixa de ser espelho e vira ruína. O “nós” desaparece. E em muitos casos, como Gillian afirma, a sensação não é apenas de dor ou raiva, mas de despersonalização: “Não sei mais quem eu sou”.
O colapso de quem trai
O outro lado da moeda não é menos devastador. Costa, o marido infiel, também enfrenta um colapso. “Não sou esse tipo de homem”, ele repete para si mesmo. Mas ele é. E precisa lidar com isso. Confrontado pela dor de Gillian, ele desaba emocionalmente e entra em crise. A imagem que cultivava de si mesmo como “homem de princípios” se estilhaça. Ele sente vergonha, raiva, culpa — e uma profunda confusão sobre quem é, agora que se tornou alguém capaz de trair.
A infidelidade e crise de identidade se encontram nesse ponto: ambos os lados do casal são obrigados a rever o que sabiam (ou pensavam saber) sobre si mesmos. Gillian perde seu lugar como esposa “única”. Costa, o de “moral ilibada”, se vê como “o traidor”.
Identidade, gênero e cultura: por que homens e mulheres reagem diferente?
No trecho onde Perel menciona um grupo de mulheres senegalesas, nota-se uma diferença cultural marcante. Nenhuma delas relatou ter perdido sua identidade ao ser traída — elas sentiram dor, raiva, humilhação, mas não crise existencial. Isso porque sua autoestima estava ancorada em outros valores: comunidade, religião, hierarquia familiar.
Na cultura ocidental, a individualidade é tão valorizada que ser traído vira também um ataque ao ego, à identidade e até ao valor pessoal. Para muitos, o amor é a âncora da autoestima. Quando ele falha, tudo entra em colapso.
A crise emocional após a traição
No relato de Costa, ele descreve com brutal honestidade como sua vida foi se apagando: “Senti como se minha vida tivesse morrido. Estava me transformando em um autômato.” Ele estava emocionalmente preso, buscando nas críticas e na rigidez uma forma de manter controle. Mas isso o afastou de Gillian, e o empurrou para Amanda — não pela paixão, mas pela fuga.
Esse trecho ilustra como muitas traições acontecem não por falta de amor, mas por falta de vitalidade emocional. E como os homens, especialmente, muitas vezes não reconhecem nem expressam sua dor. A raiva aparece, mas a tristeza é negada. O colapso emocional é inevitável — e por isso a terapia se torna urgente.
Quando o arrependimento não é suficiente
Mesmo arrependido, Costa não sabe como sair da vergonha. Ele se sente pressionado a explicar, a justificar, a consertar — mas percebe que, emocionalmente, não consegue. A vergonha o paralisa. Perel explica que só quando a vergonha cede lugar à culpa é que a reconstrução pode começar.
Na TCC, entendemos que a vergonha está ligada à identidade ("eu sou mau"), enquanto a culpa está ligada ao comportamento ("eu fiz algo errado"). É essa distinção que permite o recomeço. Quando o traidor se vê como alguém que errou — e não como alguém essencialmente mau — ele pode mudar.
Como a Terapia de Casal ajuda em casos de traição
Na Terapia Cognitivo-Comportamental para casais, o foco está em:
Reestruturar os pensamentos automáticos distorcidos (ex.: “nunca mais vou confiar em ninguém” ou “sou uma péssima esposa”).
Trabalhar a empatia e o acolhimento mútuo.
Separar o ato da traição da essência da pessoa.
Desenvolver novos acordos para reconstrução da confiança.
Reforçar o senso de identidade pessoal antes da identidade conjugal.
A traição quebra a conexão, mas não necessariamente o amor. O processo terapêutico ajuda o casal a se reencontrar emocionalmente e a decidir, com clareza e consciência, o futuro da relação.
Você pode se reconstruir depois de uma traição
Se você foi traído(a) e sente que não é mais quem era… ou se você traiu e hoje se pergunta quem se tornou, você está vivendo uma crise de identidade. E isso é mais comum do que parece. Não significa fraqueza. Significa que a sua estrutura emocional está pedindo ajuda para se reorganizar.
Você não precisa passar por isso sozinho(a). A terapia é o espaço seguro onde a dor pode ser compreendida, elaborada e transformada em força para novos começos.
Entre a ruína e a reconstrução
A infidelidade e crise de identidade são como terremotos que abalam não só o relacionamento, mas também o “eu” de cada um. A dor é real, a vergonha pode ser profunda — mas a reconstrução também é possível.
Você não precisa voltar a ser quem era. Pode ser alguém novo. Mais consciente, mais forte, mais inteiro(a). A escolha é sua. E a terapia pode ser o primeiro passo.
Se você está vivendo as consequências de uma traição, seja como quem traiu ou quem foi traído, não ignore o impacto que isso tem na sua identidade e autoestima. A Psicóloga Nivia Serra – CRP 05/50281 – oferece atendimento online para brasileiros em qualquer lugar do mundo e presencial no Recreio dos Bandeirantes, Rio de Janeiro. Agende sua sessão pelo WhatsApp e comece o processo de reconstrução emocional e relacional.
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